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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Gerados pela Palavra da Verdade



Tiago inicia sua carta saudando os destinatários, irmãos da diáspora, segue falando do valor da provação na constituição do caráter cristão, da sabedoria que procede do alto (aqui), e agora convida o crente de origem humilde a gloriar-se em sua condição espiritual, e ao irmão rico a exultar no reconhecimento de sua condição humana. 

Em seguida Tiago fala do valor de ser aprovado na tentação, e de evitar as tentações que seduzem o crente ao mal, tentações estas cuja origem reside na concupiscência, e que tem como fator positivo o fato de tornar o crente mais compreensivo com a fraqueza alheia e mais amoroso (aqui) e então expõe o fato de que Deus ao invés de tentar o crente induzindo o mesmo ao mal, gera os mesmos de novo pela Palavra da Verdade. 

Somente os que são gerados pela palavra da verdade podem resistir às provações, bem como o apelo da concupiscência e colocar a mesma em prática vivenciando a verdadeira religião. 

A REALIDADE DO RICO E DO POBRE NO EVANGELHO
Mas glorie-se o irmão abatido na sua exaltação,

E o rico em seu abatimento; porque ele passará como a flor da erva.
Porque sai o sol com ardor, e a erva seca, e a sua flor cai, e a formosa aparência do seu aspecto perece; assim se murchará também o rico em seus caminhos (Tg 1. 9 - 11 NVI). 
Tiago recomenda que o homem humilde (ταπεινος [tapeinos]), se glorie na sua condição. O termo em apreço e empregado na LXX, para designar pessoas pobres e sem posses. Uma outra palavra, que descreve bem o indigente é o termo πτωχος (ptoochos) era usado para expressar toda forma de carência. Em termos concretos, que não possui poder, influência, bens, posses, não tem do que se orgulhar, exceto em Deus, caso o conheça. 


O verbo é oriundo da palavra καυχαομαι (kaukaomai), cujo sentido é o de demonstrar uma alegria orgulhosa e exultante. Ao estudar a evolução do pensamento de Paulo, é possível observar que no pensamento deste crente algum poderia gloriar-se a respeito de um possível desempenho no cumprimento da lei (Rm 3. 27), mas o crente se gloria na esperança da glória de Deus (Rm 5. 2), nas tribulações (Rm 5. 3), em Deus e em Cristo (I Co 1. 30, 31), nas fraquezas (II Co 12. 9, 10), e na cruz de Cristo (Gl 6. 14). 

No texto em apreço o convite é feito a fim de que, a despeito das posses que o crente possua, ele se glorie em sua exultação. O termo para exultação aqui é υψει (hupsei), e refere-se ao atual estado de exaltação que o crente desfruta em razão de sua relação com Cristo. Em um estudo posterior falarei do processo de identificação de Cristo com a humanidade, bem como da plenitude do mesmo, em razão do esvaziamento de Cristo, ao ponto de o mesmo se identificar não com o que era nobre, mas com o que de mais vil houve neste mudo. 

Nem riqueza, nem pobreza constituem razão para que o crente se glorie diante de Deus, isto é fato, mas Tiago recomenda ao que tendo tudo para se exaltar, que se abata, e ao que tem tudo para andar abatido, que se exalte em decorrência de seu relacionamento com Cristo. Assim, ao pobre cabe lembrar que o fato de estar unido à Cristo, lhe é motivo de glória, ao passo que ao rico, cabe a lembrança de sua condição humana.

A expressão ταπεινωσει (tepeinoosei), que a Almeida corrigida fiel traduz por abatimento, e a Nova Versão Internacional como condição humilde, é empregada na LXX, para traduzir o hebraico שִׁפְלֵ (shepel), que por sua vez é traduzido por baixeza na ACF, e por humilhação na NVI. No contexto da carta de Tiago, o irmão do Senhor recorre à fragilidade da natureza humana a fim de lembrar os ricos que estes precisam estar cada vez mais humilhados na presença do Senhor.

Não se trata da visão simplória de quem se diz pouco instruído, de baixa condição social, morador de comunidade, mas que se gloria de ser usado por Deus. Uma jumenta foi usada por Deus, reis ímpios foram instrumentos de juízo e disciplina para Israel, e um rei ímpio (Ciro) foi o instrumento de libertação do povo. Ser instrumento de Deus não é título de glória para ninguém. O mesmo se pode dizer de ser rico, neste caso, necessário se faz a lembrança de que
Uma voz diz: Clama; e alguém disse: Que hei de clamar? Toda a carne é erva e toda a sua beleza como a flor do campo. Seca-se a erva, e cai a flor, soprando nela o Espírito do Senhor. Na verdade o povo é erva. Seca-se a erva, e cai a flor, porém a palavra de nosso Deus subsiste eternamente (Is 40. 6 - 8 ACF). 
Pedro cita esta mesma palavra articulando com a regeneração
Pois vocês foram regenerados, não de uma semente perecível, mas imperecível, por meio da palavra de Deus, viva e permanente. Pois, "toda a humanidade é como a relva, e toda a sua glória, como a flor da relva; a relva murcha e cai a sua flor, mas a palavra do Senhor permanece para sempre". Essa é a palavra que lhes foi anunciada (I Pe 1. 23 - 25 NVI). 
Articulando a fala de Pedro com a de Tiago, e ao mesmo tempo empregando a de Paulo, reafirmo com o apóstolo dos gentios que: De nada vale ser circuncidado ou não. O que importa é ser uma nova criação (Gl 6. 15 NVI). Parafraseando, de nada vale a condição social do homem, mas sim se ele foi, ou não, gerado pela Palavra de Verdade.

GERADOS PELA PALAVRA DA VERDADE
Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas (Tg 1. 17, 18 ACF). 
O mais curioso, é que quando leio o texto de Isaías, citado por Pedro, percebo um contraste entre a Glória de Deus e a condição humana, visto que o profeta afirma: a glória do Senhor se manifestará, e toda a carne juntamente a verá, pois a boca do Senhor o disse (Is 40. 5 NVI), para então dizer: Toda a carne é erva e toda a sua beleza como a flor do campo, e Na verdade o povo é erva (Is 40. 6, 7 NVI). Ao citar a LXX, Pedro permite uma comparação entre a glória humana e a glória de Deus, veja: toda a humanidade é como a relva, e toda a sua glória, como a flor da relva; a relva murcha e cai a sua flor, mas a palavra do Senhor permanece para sempre (I Pe 1. 24, 25 NVI). 

Mais estarrecedora do que a incrível articulação feita por Pedro, é o fato de que o mesmo encerra sua carta dizendo que Deus em sua graça chamou todo cristão para o usufruto de uma glória eterna, e que ele mesmo confirma, firma, fortalece e estabelece o crente para que tal projeto se concretize (I Pe 5. 10), mesmo participando da glória, esta pertence ao único Deus (I Pe 5. 11). 

Retornando ao texto de Tiago, este introduz o tema da geração pela Palavra da verdade, imediatamente após dissertar a respeito da tentação a que todos os seres humanos estão sujeitos em decorrência de sua concupiscência. Se Paulo diz: eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem (Rm 7. 18 ACF), e: inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser  (Rm 8. 7 ACF);  Tiago afirma: cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte (Tg 1. 14, 15 ACF). 

Conforme visto em estudo anterior, ainda que não tente ao homem, no sentido de induzir o mesmo ao mal, Deus, controla as tentações (I Co 10. 13). Se de um lado o homem possui uma natureza que o predispõe ao mal, por outro lhe concede ser gerado de novo pela palavra da verdade. Esta regeneração é:

  1. Um dom perfeito, uma excelente dádiva, um presente, e tal como a experiência do nascimento vem completa. 
  2. Não decorre dos esforço humano, mas vem do Pai da luzes. 
  3. Decorre da vontade de Deus, jamais da vontade humana (Jo 1. 12, 13). 
  4. A palavra é o instrumento por meio do qual o crente é gerado de novo (I Pe 1. 22, 23). 
  5. O propósito deste ato, é que o crente seja uma nova criatura e com isto antecipe a restauração do Reino divino no restante da natureza. 
  6. É por meio da nova geração que o crente se habilita a colocar em prática a palavra de Deus. 


Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

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