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sábado, 20 de julho de 2013

Jesus, o modelo ideal de Humildade

 
Quando afirmamos que Jesus é o modelo de humildade, o que estamos querendo dizer em termos práticos é que ele é o parâmetro, que ele nos serve de objeto de imitação. Em seu discurso de despedida, ele disse aos seus discípulos amados: dei-vos o exemplo, para que como, para que como eu vos fiz, também vós o façais (Jo 13. 15 Bíblia de Jerusalém). O termo aqui para exemplo é
υποδειγμα (hupodeigma), cujo significado é o mesmo de modelo e ilustração, sendo que esta última palavra define a imagem empregada no texto de um livro com fins de aprendizado do conteúdo do próprio. O ato de Cristo no momento da ceia teve exatamente esta função, a de ilustrar aos seus discípulos o comportamento que os mesmos deveriam de ter uns para com os outros. Nesta lição veremos Jesus como modelo ideal de humildade.
 
Jesus como modelo
 
Escrevendo aos filipenses Paulo roga aos irmãos desta comunidade a que tenham fortes sentimentos de compaixão uns pelos outros, a que nutram profunda comunhão e que vivam unidos (Fp 1. 27 - 2. 4). O segredo da unidade da fé, dentre outras virtudes é a humildade (Ef 4. 1 - 3; Fp 2. 3). Já fizemos em nosso blog, um estudo sobre o tema em apreço. Para exemplificar a humildade para os irmãos de Felipo, o autor da carta apela ao exemplo maior da tradição cristã, o Filho de Deus, que sendo Deus como o Pai, aniquilou-se a si mesmo a fim de colocar-se como servo daqueles a quem ele veio salvar (Mt 20. 26 - 28).
É neste ponto que Paulo pede aos destinatários de sua missiva: tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus (Fp  2. 5 Bíblia de Jerusalém). O termo para sentimento aqui, é o verbo φρονεισθω (phroneisthoo), que vem de φρονεω (phroneoo), que por sua vez, pode ser traduzido tanto como pensar, quanto por sentir.
Em nossos léxicos o sentimento é definido tanto como a aptidão para sentir as sensações afetivas comuns, quanto como conhecimento imediato, intuição. Isto indica que a disposição de Cristo em humilhar-se a si mesmo foi um ato que envolveu emoções e o consciente divino, foi uma disposição de mente e de coração. Paulo apela para esta disposição a fim de que os crentes de Filipo e nós que lemos seus escritos, tenhamos em Cristo o modelo supremo de nossas vidas.
O exemplo de Cristo tem ampla base na tradição bíblica do novo testamento. Aos crentes de Roma Paulo escreveu: Nós os fortes devemos carregar as fragilidades dos fracos e não buscar a nossa própria satisfação. Cada um de nós procure agradar ao próximo, em vista do bem para edificar. Pois também Cristo não buscou a sua própria satisfação [...] (Rm 15. 1 - 3 Bíblia de Jerusalém). Jesus é modelo.
Escrevendo aos irmãos de Corinto a respeito da coleta para os pobres de Jerusalém, ele afirmou: com efeito conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo, que por causa de vós se fez pobre, embora fosse rico, para vos enriquecer com a sua pobreza (II Co 8. 9 Bíblia de Jerusalém). Fazer-se pobre aparece no texto grego como um verbo (επτωχευσεν [eptooceusen]) cuja origem pode ser ligada à palavra πτωχοι (ptoochoi). Esta palavra era usada para designar mais do que pessoas socialmente desfavorecidas, mas aqueles que estavam á beira da indigência, e cuja sobrevivência dependia de ajuda dos demais. Jesus é o modelo.
 
Jesus, o modelo ideal
 
Esta palavra é extremamente traiçoeira, uma vez que a mesma pode ser empregada para designar aquilo que é fantástico, quimérico, logo distante da realidade. Quando assumimos este sentido, e ao mesmo tempo apresentamos Cristo como exemplo de qualquer coisa, inevitavelmente nos deparamos com a seguinte fala: mas ele era Deus. Concordo, pois somente Deus poderia amar como ele amou, se esvaziar de si mesmo como ele o fez; assumir a forma de servo, abrir mão de todo poder e influência, pior, não usar nada disto em beneficio próprio,  mas exclusivamente em benefício dos demais. Em Cristianismo Puro e Simples C. S. Lewis assume esta posição, mas ele coloca que diante do exemplo de Cristo, o que nos resta é imitá-lo.
Lewis propõe que por meio da disciplina e da graça podemos imitar o exemplo de Cristo até que sejamos uma cópia do mesmo. Neste caso o sentido de ideal tem de ser repensado, não como algo quimérico, ou distante da realidade, mas como algo de caráter concreto. Não cabe aqui o entendimento de ideal como algo que o espírito imagina, mas que não pode ser alcançado.
Aqui o ideal é portador da suprema perfeição. Esta palavra é compreendida em nossa cultura como sendo a total isenção de defeitos. Assim, designamos como perfeito aquilo que é impecável, que é absoluto. Com relação a Cristo a perfeição tem este sentido, visto que ele em tudo foi tentado, mas sem pecado (Rm 8. 3; Hb 4. 16), de forma que o autor da Carta aos Hebreus o chama de santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, mais elevado do que os céus, e que não precisa de expiação pelos próprios pecados (Hb 7. 26, 27). É neste sentido que Cristo é o modelo ideal.
John Stott destaca em vários dos seus escritos que o alvo supremo da vida cristã é fazer com que o crente seja semelhante a Cristo. É neste sentido que Cristo afirmou: dei-vos o exemplo, para que como, para que como eu vos fiz, também vós o façais (Jo 13. 15 Bíblia de Jerusalém). O texto diz que ele é o nosso exemplo e como tal deve ser imitado. Tal não seria exigido dos discípulos se fosse inviável. Mais do que isto, ler obras de Shakespeare, ou Wilde, não garante que seremos bons escritores como estes o foram, mas podemos seguir o exemplo de Cristo, porque ele nos deixou o seu Espirito, a fim de nos guiar, conduzir em toda a verdade (Jo 14. 26).
 
Modelo de Humildade
 
Humildade é uma palavra cujo entendimento é muito obscurecido em nossa cultura. Primeiro ela foi entendida como pobreza, depois como auto depreciação. Este último engano foi o que mais males trouxe para a compreensão do tema. Pessoas que demonstram um mínimo de segurança, de inteligência são prontamente taxadas como orgulhosas, curiosamente ninguém mais faz esta conexão entre riqueza e arrogância.
A leitura de Brennan Manning e de Blaise Pascal lançou luz na sobre este tema. Por meio desta autores pode entender que a humildade nada tem a ver com o auto desprezo. Na verdade a pessoa que busca desenvolver humildade por estes métodos acaba doente da alma. Pascal vai ainda mais longe, ele identifica que a fonte do nosso orgulho esta na distorção do nosso amor próprio, e que a própria busca por parecer ser humilde aos olhos dos demais, é em si, prova de orgulho. C. S. Lewis afirma que o homem humilde sequer pensa em si mesmo, quiçá na imagem que as pessoas tem dele!
Sem citações diretas aos autores mencionados, vou passar ao exemplo do Evangelho. Em que momento Cristo se auto deprecia? Pelo contrário! Se olharmos atentamente o contexto do texto que encabeça o presente post, veremos que Cristo disse aos seus discípulos: Vós me chamais de mestre e Senhor, e dizeis bem, pois Eu o Sou (Jo 13. 13 Bíblia de Jerusalém). Ele também disse: quem me vê, vê o Pai (Jo 14. 9 Bíblia de Jerusalém).
Jesus não se desprezou, nem se diminuiu diante de ninguém. Pelo contrário ele não hesitou em escandalizar os seus conterrâneos nazarenos com a sabedoria das suas palavras (Mc 6. 2, 3). Todavia, o texto bíblico é claro em apontar insistentemente que ele se fez pobre πτωχοι (ptoochoi), e que assumiu forma de servo δουλου (doyloy). Em outras palavras ele se fez de pobre e de escravo (II Co 8. 9; Fp 2. 7).
Nas sociedades contemporâneas a de Cristo ambos eram tidos por desprezados (Tg 2. 6). Humilde é a pessoa desprezada. E Cristo foi desprezado (Is 49. 7; 53. 3; Mc 9. 12). Desde o seu nascimento, à família, até a sua morte, e morte de cruz ele se identificou com tudo o que é sinônimo de ignominia, de desonra. É este exemplo que somos convidados a seguir.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.
 

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